Alimentação e Câncer
“Para resolver um problema desta natureza, o segredo é raciocinar de trás para frente. É uma proeza da maior utilidade, mas as pessoas não costumam praticá–la.”
– Sherlock Holmes, em Um estudo em vermelho, de Sir Arthur Conan Doyle
A frase acima destacada é de uma profundidade abissal, interpretá–la frente à uma doença como o câncer é de uma necessidade categórica. Se analisarmos friamente conseguimos sugerir que Sherlock Holmes estava falando em prevenção de doenças ou, pelo menos, podemos querer supor isso, não é mesmo.
Agregando à Holmes nada menos que o pai da Medicina, Hipócrates: “Deixe que seu alimento seja seu remédio e seu remédio seja seu alimento”, acho que podemos nos dar o luxo de extrapolar a Medicina preventiva à Nutrição.
E o que é mais fundamentalmente material na Nutrição que o peso de uma pessoa? Será que podemos associar algo tão básico como o controle de peso com uma doença tão multifacetada como o câncer?
Não somente podemos como devemos. O peso de uma pessoa diz muito sobre seu metabolismo e estado de Saúde. Assim, o controle de peso (mais importante ainda, a composição corpórea do peso) é simplesmente a primeira recomendação das diretrizes nacionais e internacionais contra o câncer.
A recomendação número 1 diz: Seja mais magro, por maior tempo, possível. Ou seja, estamos falando que a manutenção do peso saudável é imprescindível para o combate de doenças, seja o câncer, seja outras doenças crônicas importantes.
A justificativa de tal recomendação se fundamenta no princípio que o ganho de peso (excesso de gordura – sobrepeso e obesidade) aumenta o risco de desenvolvimento de alguns canceres (pancreas, esofago, fígado, colorectal, mama, rins e endométrio), isso não se dá tão somente porque o excesso de gordura corporal e acúmulo nos órgãos vitais diminui a funcionalidade destes, ou porque ela (gordura) aumenta o risco de condições celulares para o desenvolvimento e proliferação das células malignas (ambiente inflamatório) e inibição da apoptose celular, mas também porque estamos associando ao ganho de peso à (muito) provavelmente hábitos de vida não saudáveis como má alimentação e sedentarismo (ou insuficiência de atividade física).
E, se estamos falando de má alimentação, estamos falando em consumo baixo (insuficiente) de micronutrientes e fitoquímicos protetores e estimuladores do sistema imunológicos que são cruciais no combate de doenças. Além disso, o ganho excessivo de peso dá origem à doença chamada obesidade que leva à um desgaste constante na tentativa de resposta do corpo, elevando o grau inflamatório das células, ambiente perfeito para geração de radicais livres, mutações gênicas e quebra do controle de regulação crescimento celular. E o que é o câncer, senão o rompimento dos diversos mecanismos controles de proliferação celular?
Assim, a manutenção de peso que se perfaz nas bases de uma conduta nutricional saudável e equilibrada traz à tona uma tênue ambivalência: O controle de peso aumenta o risco de câncer, mas o controle de peso aumenta o combate da doença, sendo o peso crucial à prevenção e tratamento da doença.
Somente conhecendo os processos intrínsecos do problema (cancer), poderíamos supor que a gordura advinda de algo fundamental (inicial) como se alimentar poderia ser trazida à luz do tratamento da doença.